2012-09-08


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO.... e .... DE VEZ EM QUANDO !





UMA CRÓNICA DE FIM DE VERÃO... A FAZER LEMBRAR OUTRAS PRIMAVERAS !
A propósito do VIII Encontro dos Antigos Alunos do Externato Infante D.Henrique – Moimenta da Beira – que vai ter lugar a 15 de Setembro. 




1962 – 2012.
Foi há cinquenta anos!
Maio de 68 ainda vinha longe, mas estávamos em plena “crise académica” em Portugal, em finais de Março de 1962, tendo como cenário a situação já de guerra em Angola.
O Dia do Estudante, que era uso comemorar-se a 25 de Novembro (entre 1921 e 1961 – tendo como origem a “Tomada da Bastilha”, nome que em Coimbra se deu à tomada do Clube das Lentes, que eram as instalações dos professores), quis ser antecipado pelos estudantes da Academia de Lisboa para o dia 24 de Março de 1962, mesmo até à margem das “conversações” com as academias de Coimbra e Porto. E esse ficaria, definitivamente, o Dia do Estudante.
Aqui, socorro-me de um texto sintético publicado no blogue de “manuelgrilo” para se perceber a sucessão de acontecimentos: “E, mesmo sem autorização do Ministério da Educação Nacional, as comemorações iniciaram-se a 24 de Março de 1962. O regime respondeu com a sua brutalidade habitual. A cantina foi encerrada e a Cidade Universitária invadida pela polícia de choque, ignorando a autonomia universitária. Estudantes foram espancados e presos, desencadeando uma reacção de repúdio que levou a que fosse decretado o luto académico e a greve às aulas.
Marcelo Caetano era Reitor da Universidade de Lisboa e mediou uma solução negociada para o problema. Os estudantes voltavam às aulas, mas realizar-se-ia um segundo Dia do Estudante nos dias 7 e 8 de Abril. Assim fizeram os estudantes mas, chegada essa data, o Ministério voltou a proibir as comemorações. O Reitor sentiu-se desautorizado e demitiu-se. O luto académico foi reposto e os estudantes desceram do Campo Grande ao Ministério (então no Campo Mártires da Pátria) ao som do grito "Autonomia!".
A agitação continuou até ao fim desse ano lectivo, continuando a greve às aulas e repetindo-se confrontos entre estudantes e polícia em Lisboa, Porto e Coimbra. Em resposta, o Governo, demonstrando a sua habitual inflexibilidade, aprovou um decreto-lei que permitia ao Ministro da Educação proceder disciplinarmente contra os estudantes. Aplicando esses novos poderes, os dirigentes associativos foram suspensos e inúmeros estudantes presos. http://www.manuelgrilo.com/rui/artigos/crise.html “.                                   
***** MOIMENTA DA BEIRA – SINOS A REBATE !
É nesse clima de agitação, não apenas dos estudantes,  que a população de Moimenta da Beira responde ao apelo do toque dos sinos a rebate, logo pela manhã de 2 de Abril de 1962. E todos correm para o Externato – estava ali o motivo da agitação. 





Não os estudantes contra os professores; certamente não contra o Ministério, nem  eventualmente contra a sua “política”; não é certo que houvesse alguma ligação à contestação universitária; e também não é certo que o protesto tivesse motivações políticas. É essa, pelo menos, a ideia de Rui Eduardo Alves – na época com 14 anos de idade. Se as houve, como admite Helena Dias  (http://inverno-em-lisboa.blogspot.pt/2008_05_01_archive.html  )   citando inclusive José Lucas – “Não podíamos andar nas ruas em grupos de mais de duas pessoas” – essas ter-se-ão verificado na sequência dos acontecimentos: “A PIDE andou em Moimenta da Beira a interrogar os contestatários que defendiam os arcos do edifício”.
Foi esse exactamente o nó da questão. Um edifício de arquitectura moderna e com uma fachada em arcos, à semelhança do Palácio da Alvorada, em Brasília, ideia que o Pe Bento da Guia havia trazido de uma recente viagem ao Brasil. Ai Jesus, um projecto “brasileiro” que não agradou ao regime português. Por isso, os arcos da fachada deveriam ser destruídos. Os estudantes souberam das intenções pelo empreiteiro contratado para o serviço – diz Rui Eduardo. E revoltaram-se, naturalmente, “pois eram os arcos que conferiam maior beleza ao edifício do Externato”. E desde o início tiveram o apoio dos populares. Tal como de Óscar Niemayer – o arquitecto de Brasília – que mais tarde escreveu a Bento da Guia a elogiar o edifício. 






A atitude “expectante” da GNR evitou confrontos e os arcos permaneceram até os ânimos serenarem. Mas a exigência da modificação manteve-se e Bento da Guia  esteve mesmo na iminência de ser preso, pois em Setembro desse ano as obras ainda não tinham sido feitas. E a solução foi desfigurar a fachada com a construção de um muro de metro e meio de altura junto aos arcos. À distância e perante a renovação que hoje se nota, talvez tenha sido a solução mais acertada e de maior visão. O dia 2 de Abril de 1962 foi perpetuado em 15 de Setembro de 2007: 







Que os antigos alunos, neste seu VIII encontro, possam reflectir sobre tudo isto – não sem se interrogarem a propósito dos actuais caminhos do ensino e da educação. Como fizeram os universitários em 1962, sem medo de enfrentar o regime vigente. 




NOTA: - Fotos do autor (Externato Infante D. Henrique ) e de

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