2013-03-15


A MINHA CRÓNICA DE HOJE NO "JORNAL BEIRÃO" (MOIMENTA DA BEIRA).

Na qual escrevo sobre o novo Papa, sobre quem o Bispo Emérito de Setúbal - D. Manuel Martins - me referiu hoje :- "Um grande Profeta surgiu entre nós. Deus visitou o seu povo".



A TÁTICA DO QUADRADO...
... Do Prefácio inútil à falta de memória, passando por omissões, ausências e fracas lideranças, pelo novo Papa e pelo Tribunal Constitucional.

1- Foi mais fácil ver fumo branco no Vaticano do que vislumbrar qualquer sinal de acórdão no TC, sobre algumas normas inconstitucionais do OE para 2013.
“Parece que os cardeais foram buscar-me ao fim do mundo”. A primeira ideia transmitida de viva voz aos fiéis de todo o mundo – e não terá sido por acaso – do novo Papa Francisco I, Jorge Mário Bergoglio de seu nome próprio. É que a Argentina fica mesmo muito longe de Roma, situando-se no mais católico dos continentes. Desde há longos anos uma região muito sofrida, muito marcada pela pobreza e pelo subdesenvolvimento – factores de sobra para instalação de ditaduras e outros regimes mais ou menos totalitários. Talvez também não por acaso, o chileno Luís Sepúlveda escreveu Mundo do Fim do Mundo, dedicando-o aos seus “amigos chilenos e argentinos que defendem a preservação da Patagónia e da Terra do Fogo” – esta última igualmente título literário de outro escritor chileno Francisco Coloane. Ali, na região mais a sul, por onde navegou o nosso Fernão de Magalhães.  
Mas para além do fim do mundo, é bom reter também a mensagem implícita na escolha do nome eclesiástico: nunca houvera um Papa Francisco, é portanto o primeiro – pretendendo significar começo, mudança, esperança. Não partir do zero, naturalmente, mas – talvez pensando no caminho de S.Francisco de Assis – renovando o espírito e a essência da e com a Igreja, a casa espiritual comum de todos os católicos. Ainda de realçar o reconhecimento do papel preponderante dos “Jesuítas” – o novo Papa é um deles – na evangelização, na instrução, na transmissão do conhecimento ao longo dos tempos. Francisco, é o primeiro Papa jesuíta. E dele se espera, naturalmente, um caminho de união, de partilha e de orientação no sentido da justiça, da paz e da solidariedade – um caminho que deve trilhar, mesmo que a Presidente Kirchner continue a apelidá-lo de “verdadeiro líder da oposição” na Argentina.  
          2- Segundo Honoré de Balzac no seu “Do uso dos prefácios” – que eu fui recuperar a Miguel Veiga no seu preâmbulo a um prefácio para Os Poemas da Minha Vida – será fundamental reter os artigos 1º e 2º: “O uso constante dos autores será o de pregar prefácios no começo de todos os seus livros” e “O uso do público será o de não os ler e de os encarar como nulos e não acontecidos”. Relativamente ao recentemente célebre prefácio de Cavaco Silva, a minha atitude deu cumprimento ao artigo 2º de Balzac. Não li, portanto, o prefácio do Presidente da República à edição mais recente dos seus Roteiros mas não pude evitar reter alguns comentários a propósito.
          Do assentimento do inefável Vasco Graça Moura – que apenas se interroga sobre se o dito prefácio caucionará toda a política do governo – à inutilidade das vinte páginas que nada trazem de novo, fixada por Baptista Bastos, há toda uma série preocupante de escritos e ditos que valerá a pena ter em atenção. Concordando ou discordando, naturalmente.
          Para a historiadora Fátima Bonifácio – numa altura em que é fundamental encontrar um novo desígnio nacional – “a principal preocupação de Cavaco Silva é proteger-se, é ficar sempre bem na fotografia”. E o filósofo José Gil – para quem o poder actual navega à vista – a acção do PR é insuficiente e tanto ele como os membros do governo “estão a milhares de léguas da população e da realidade”. E tudo, em nome do que chamam estabilidade. Será estabilidade haver mais de um milhão de desempregados? E três milhões a viver no limiar – que título mais pomposo! – da pobreza? E muitos outros milhares que já não podem pagar as suas contas de água e de eletricidade? A situação é tão grave, diz o bastonário da Ordem dos Advogados – Marinho Pinto – para que continue “sem que haja consequências políticas”. E para isso pede a intervenção de Cavaco Silva. Mas, ao que parece, não vamos poder vê-la ou senti-la. O povo português é um povo com muita história mas também com uma curta memória! E o atual PR, parte desse povo, já não se recorda da forma como chegou ao poder, tendo o seu partido feito “desaparecer” Mota Pinto – até fisicamente – o parceiro social-democrata de Mário Soares no Bloco Central. E desaparecido Mota Pinto, termina a fórmula governativa que foi obrigada a chamar o FMI, pela segunda vez, a Portugal. E quem governou antes do Bloco Central? Exatamente a AD [PPD-CDS-PPM] de Sá Carneiro e com Cavaco Silva, nas Finanças, o qual não quis acompanhar Balsemão na instabilidade que se seguiu – sobretudo por ação do PPD/PSD – até 1983. Só o verdadeiro “sentido de Estado” de Soares e de Mota Pinto pôde pegar num país em crise profunda. Por outro lado e por agora, não vem ao caso o eventual papel de Ramalho Eanes nos “jogos políticos” de então.
          O que importa reter é que – como diz Daniel Cohn-Bendit – “o papel do político é fazer escolhas, mas sendo claro quanto aos riscos. A sociedade moderna é uma sociedade de riscos, não se lhe pode escapar”. Exatamente o contrário de Cavaco Silva. Por omissão e por ausências – para sua estabilidade – tem dado cobertura à arrogância, incompetência e diatribes da coligação no poder. Que essa sua “comodidade” não venha, depois do que José Gil chama “a abolição da existência possível das pessoas” a desembocar em violência!
António Bondoso
Jornalista – C.P. 359 



Texto e fotos de António Bondoso.

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