2015-05-17

Também é nossa. Já não é só nossa!


Era uma vez – mas como não foi a primeira, não terá sido certamente na “Três” – um solitário pensionista, reformado, abandonado pelo Estado, moeda de troca de um jogo de poder em que os governantes são instruídos pela alta finança, e no qual os políticos da oposição [das oposições, melhor dizendo], lançados os dados no tabuleiro do “monopólio”, são incapazes de apostar com discernimento e decisão. E são estes, pela sua hesitação, os mais penalizados. Não aqueles que, usando de perfídia e de abuso da governança, utilizando o facilitismo para atingir as metas capitalistas, extorquem aos ditos “indefesos/abandonados” o sinal [pelo menos grande parte] do seu trabalho de muitos anos, independentemente de continuarem a contribuir – quase como se estivessem no ativo.
É o meu retrato? Claro que é! Idêntico ao de milhares de camaradas registados nos processos da imensidão dos ministérios deste país. E mesmo sendo eu jornalista – apesar de aposentado, como disse – não é fácil aguentar a pressão e denunciar a injustiça, a trafulhice, o concubinato, o casamento “ideológico” entre a tacanhez, a demagogia e a ilusão salazarenta da ordem e da mansidão.
Há, de facto, um manto protetor que “paralisa” as fracas mentalidades que habitam este território. Como por exemplo o que se tem passado à volta do AO. Em respeito pelos muitos milhares de crianças e adolescentes que já praticam a nova ortografia nas escolas e tomando boa nota da adaptação de muitos profissionais do jornalismo…eu sou a favor do acordo. As mudanças afetaram-me mas nunca me derrubaram psicologicamente.
Como diz o Prof. Carlos Reis, as reações negativas passaram a ser como que uma questão passional. E aproveita para recordar:- “Há 40 anos, Portugal mandava na língua. Mas, nestas quatro décadas, dois acontecimentos foram decisivos: a língua passou a ter valor económico e Portugal perdeu a propriedade. Já não somos proprietários, passámos a condóminos, somos nós e mais sete países. Muitas pessoas ainda resistem a esta ideia.”


António Bondoso
Jornalista

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