2016-05-01

NESTE DIA:
QUE BOM QUE É FALAR DA MÃE.


Falar da mãe é perceber uma recordação doce de um sorriso contagiante. É a memória que guardo antes de qualquer dor, é a lembrança que retenho antes do sofrimento da partida. Falar da mãe é um sussurrar baixinho antes do rompante do pai – quando os deveres se afastavam de mim e eu deles, provocando o caos no que se dizia correto. A mãe sempre se interpôs entre um direito de circunstância e um dever natural. A mãe que protegia, a mãe que aconselhava, a mãe preocupada...sempre! Muito para além dos sentidos, desejos e previsões. A mãe do carinho, a mãe da advertência, a mãe do chinelo em riste para corrigir o mal feito, a mãe que assumia as dores de um filho a crescer, a mãe do amor, a mãe da amizade, a mãe mulher completa no calendário dos dias, dos meses e dos anos que foram passando a correr...e se finaram tão cedo. Falar da mãe é ter presente a falta. Falar da mãe é entender um tempo outro, em que a ordem pouco sentido fazia. A mãe e a horta, a mãe e a cozinha traduzida num arroz-doce único, a mãe e a camisa branca de domingo, a mãe e os sapatos a brilhar antes de um mergulho na piscina velha, a mãe que percebia a fuga ao cantarolar da tabuada, a mãe que tolerava a ausência de uma missa no calor asfixiante do domingo. Falar da mãe é saber que uma carta de palavras poucas valia a fortuna de uma nota de cem escudos a caminho do sul de Angola, onde o crescimento natural se completava no serviço militar obrigatório preparado a preceito e sem preconceitos. Foi uma mãe à qual devo palavras de louvor, que não soube e não pude transmitir no tempo certo. É uma mãe especial pela bondade da criação nessa ilha longe no meio do oceano do mundo. Não digo que tivesse sido a melhor mãe do mundo. Foi apenas mãe – a minha. E que eu amei e respeito em memória! E que hoje se completa com a mãe do meu filho – igualmente amada e respeitada em vida! Tal como recordo saudoso a sua mãe - uma outra que tive a sorte de ter, embora também por tempo curto. 


E NESTE DIA, AINDA...
SER MÃE…É IR ALÉM:
Às vezes é tudo tão óbvio, quantas delas as ideias parecem repetir-se, em muitas ocasiões pensamos que já não temos palavras, em circunstâncias diversas o discurso apresenta-se fosco, por muito que o sentimento nos comprima o peito – nem sempre conseguimos ter voz para exteriorizar o bater do coração.
Pode acontecer até que o cruzar do imperfeito leve amiúde a situações de conflito. Sentimentos de posse e de libertação, de proteção por excesso e de afirmação da independência – quantas vezes não colidem. Mas é apenas um momento mais ou menos prolongado. Tarde ou cedo há um gesto de carinho a selar o «normal funcionamento» da relação.
Por isso é que eu digo que – ser mãe…é ir além! De tanta coisa! De tanto como ser filho! Aceitando, percebendo, compreendendo, perdoando, amando com humildade. É único! E por isso é um desafio…

Grato à Carminda Carmim por ter selecionado este poema sobre o Dia da Mãe, para mostrar na Santa Casa da Misericórdia da Trofa. 

António Bondoso
Jornalista


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