2018-10-06


ELEIÇÕES EM S. TOMÉ E PRÍNCIPE
Como, à distância, cruzo informações e sentimentos. Mantendo o equilíbrio, controlando as emoções e apelando à serenidade.
Que o ato eleitoral decorra sem incidentes e que os vencedores, sobretudo se houver maioria absoluta, saibam respeitar as minorias. O pior que pode acontecer em democracia...é a DITADURA das maiorias. Um abraço a S. Tomé e Príncipe.
Foto Téla Nón

Campanha Eleitoral em STP termina em convulsão.

Já é tempo…também em S. Tomé e Príncipe, de quem governa servir o país e não se servir do Estado.
Ou de como a distribuição de arroz «fora de tempo», um cantor nigeriano e uma morte inconveniente podem alterar o sentido de voto nas eleições deste Domingo: Legislativas, Autárquicas e Regionais no Príncipe. 


Sem sondagens fidedignas que possam indicar uma tendência, veremos até que ponto a agitação popular dos últimos dias da campanha pode vir a determinar ou influenciar o comportamento dos 97.274 eleitores, distribuídos por 247 mesas de voto em todo o país.
         A votação decorre entre as 07.00 e as 18.00 horas deste domingo e veremos se o partido atualmente no poder – o ADI de Patrice Trovoada – vai manter a maioria absoluta, sobretudo tendo em conta a agitação vivida nos últimos dias e particularmente a morte de um jovem da Roça de Monte Café, em circunstâncias ainda não totalmente esclarecidas. Tanto quanto se sabe o Ministério Público já mandou abrir um inquérito e os intervenientes diretos estarão sob custódia para interrogatório judicial e subsequentes medidas de coação.
         Nem sempre o que parece é, mas fundamental será que se saiba por que razão o jovem de 34 anos, Onésimo Sacramento, seria portador de uma arma de fogo quando foi comer a uma barraca; e que se saiba por que razão, quando interpelado pelas autoridades, se terá posto em fuga oferecendo resistência; que se saiba por que razão a força policial foi agressiva com o jovem; e que se saiba se a autópsia terá sido efetuada com eficácia (4 médicos na presença de um familiar); e se os resultados  imediatos serão fiáveis: - a primeira conclusão é que o jovem futebolista da UDRA poderia ter morrido de congestão. Não só pelo esforço físico da fuga e da queda a um curso de água na localidade de Água Cola, próxima da vila de Batepá, na Trindade, onde terá sido apanhado pela polícia e por elementos da guarda do governo. Ter-se-á sentido mal logo ali, pelo que terá sido transportado ao Centro de Saúde da Trindade onde já chegou sem vida. Há contudo outras informações, concretamente do jornal Téla Nón, citando populares, segundo as quais o jovem teria morrido na esquadra policial da Trindade, sendo posteriormente transportado para o Hospital Ayres de Menezes, na cidade capital. De facto, segundo outras fontes, o corpo apresentava sinais de agressão...mas, aparentemente, insuficientes para justificar a morte. Apurar as responsabilidades, com seriedade, é o desafio que agora se coloca ao Governo, à Polícia, aos familiares e às pessoas que presenciaram. E, sobretudo, saber transmitir igualmente com seriedade os factos. As razões de um clima tenso e intenso estão de facto a montante do que aconteceu na quinta-feira e cabe aos políticos - a quem governa em 1º lugar - fazer com que tudo seja mais transparente e mais sério.
         É complicado dizer até que ponto isto afeta a popularidade do governo e do partido que o suporta...mas afetar, afeta – dizem-me de S. Tomé. Foi uma campanha tranquila até este incidente e grande a mobilização popular. O ADI continua com a perceção de que é possível atingir a maioria absoluta dos 55 deputados, mas há quem veja potencialidades nas campanhas do MLSTP/PSD e da chamada «Coligação» entre o PCD, a UDD e o MDFM. Mas há quem coloque reservas à capacidade política desta «força», dizendo que as figuras carismáticas dos partidos praticamente desapareceram, perdendo-se a oportunidade de chamar à liça figuras como Maria das Neves ou Rafael Branco, mesmo como independentes.
         Na Região Autónoma do Príncipe, há 5.168 eleitores recenseados e concorrem três candidatos: José Cassandra, atual Presidente do Governo Regional, da União para Mudança e Progresso do Príncipe (UMPP), que procura um quarto mandato; o candidato do MLSTP é Luís Prazeres, mais conhecido por “'Kapala”, e depois há Nestor Umbelina, dissidente da UMPP, que concorre pelo recém-criado Movimento Verde para o Desenvolvimento do Príncipe.

          O processo eleitoral será acompanhado por missões de observação eleitoral, que já estão no terreno, nomeadamente uma da CPLP, chefiada pelo antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, Zacarias da Costa.


António Bondoso
Jornalista                                                                      
6 de Outubro de 2018. 

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