2021-07-11

A SUBSTÂNCIA “ATÍPICA” de “O MEU PAÍS DO SUL”…de António Bondoso, quando S. Tomé e o Príncipe assinalam 46 anos de independência. 



O livro «nasceu» no Auditório da UCCLA ao princípio da noite de sexta-feira passada.

As emoções e a saudade falaram muito forte, mas não quero que fique a ideia de ter sido «cortado» todo o primeiro plano do texto, como aparentemente transparece em alguns escritos. Os quais, no entanto, não deixo de registar com muita satisfação e reconhecimento. 



Mas, talvez sob o efeito contagiante da alegria que o Tonecas Prazeres colocou nas suas intervenções musicais ou da voz autorizada e vibrante da Regina Correia ao dizer alguns Poetas santomenses…talvez quem tenha participado na sessão da UCCLA não tenha retido ou tenha deixado passar ao lado alguns aspetos essenciais da intervenção do apresentador Abílio Bragança Neto.



Em «primeiro plano» o que disse o Abílio?

Que é um livro de “memórias atípicas” de um homem que se propõe – também ele – atípico, e sem dúvida um «nacionalista tranquilo», embora não constitucionalista.

E disse também que o livro é uma «tentativa de resposta identitária contracorrente», do autor, deixando perceber «como pode ser heterodoxa uma compreensão da nacionalidade em muitas pessoas». Nesta linha de pensamento, Abílio Bragança Neto cita a frase do autor que suporta a “Introdução” «…quem sou e o que nunca serei no meio de tanta gente ilustre», «o que leva a compreender a heterodoxia da sua Santomensidade».

Outra perspetiva que o sensibilizou foi o «condão de refletir o país» plasmado na obra, nomeadamente a relação com a cidade de S. Tomé que apresenta um futuro preocupante: “estamos a desistir daquele espaço”, salienta Abílio, acrescentando que “não existe uma visão daquilo que a cidade pode ser e não existe ninguém a pensá-la”. Por isso, diz ainda, “estamos obrigados, todos, a pensar o que fazer dela, refazê-la, para que ela tenha efetivamente futuro”. É fundamental reaver uma cidade orgulhosa da sua dignidade e alegria.

E depois o «Livro 2», a segunda parte da obra – Uma Ilha Coração! Disse Abílio Bragança Neto que é uma magnífica fábula, construída à volta de uma tartaruga e de um golfinho, que acompanharam o autor no seu regresso ao país – ideia inspiradora para criar uma narrativa para a promoção do turismo de STP. Uma visão política de futuro, excelente para «vender» o turismo, a Biosfera, a Ecologia, uma ideia tranquila e sustentada do país. 



Como tenho dito sempre, «a beleza do silêncio de um pôr-do-sol…é diretamente proporcional ao deslumbramento do vigor de um sol nascente.»

Seguindo a Sinopse do livro e carregando as palavras de José Carlos Ary dos Santos...direi que «Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram». A mais sentida sessão de apresentações de livros meus aconteceu ali. E foi bonito participar, e foi bonito de ver e de ouvir. Mesmo em tempo de «pandemia».

 


“O MEU PAÍS DO SUL” é, assim, um conjunto de textos escritos ao sabor do tempo e dos ventos e que agora entendi partilhar [acrescidos de algumas ideias de outros «pensadores»], despidos de qualquer «complexo de colono» mas plenos de um autêntico sentimento de pertença, no sentido de refletir e de provocar reflexão sobre as realidades do país.



De registar o destaque dado a algumas grandes figuras das letras e das artes de São Tomé e Príncipe, nomeadamente Francisco José Tenreiro - no centenário do seu nascimento e nos 60 anos da publicação de “A Ilha de S. Tomé”. Valorizado igualmente o rio Água Grande, que divide a cidade capital e nos oferece a perspetiva das antigas vivências das elites e dos «colonos de segunda» em cada uma das margens. No meio da História e das questões políticas que cercam o colonialismo, a descolonização e a conjuntura da independência, ressaltam a Cultura - do ensino/educação às Línguas, como sustentáculo da economia - e a Saúde. E depois, uma viagem contada ao pormenor à volta da ilha Grande e nesse mar que nos conduz, à margem do petróleo, às mais belas praias do mundo na ilha o Príncipe.

Julho de 2021

António Bondoso


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