2007-10-11

CICLOS DE PROXIMIDADE


EFEMÉRIDE !

No dia nove de Outubro assinalaram-se 20 anos do passamento de Luís Veiga Leitão. Esperei ver algumas referências nos media, mas o silêncio foi maior. Apesar de ter alertado alguns camaradas no activo para a efeméride. Dos que hoje ajudam a promover as palavras, parece quase ninguém o conhecer. Ao que me disseram, entretanto, devo ressalvar as emissões da Antena 2 da RDP. Pelo menos uma ponta do "serviço público". Mas Luís Veiga Leitão figura em todas as antologias da Moderna Poesia Portuguesa, foi membro da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto e da Sociedade Portuguesa de Escritores. Perseguido pelo antigo regime, foi demitido da função pública e radicou-se no Brasil em 1967. Natural de Moimenta da Beira - um dos vértices das "Terras do Demo" de Mestre Aquilino - Luís Veiga Leitão escreveu mentalmente no forte-prisão de Caxias alguns dos poemas de "Noite de Pedra". Ciclo de Pedras, Livro de Andar e Ver, Paixão,Longo Caminho Breve - foram outros sucessos de uma forma telúrica e pura de apresentar e defender ideias. Como repetia - a vida de um Poeta é sempre maior que a sua poesia. E, no fundo, o poema - qualquer poema - é um canto de derrota : silêncio e voz de fracturas.

Com a devida "vénia", transcrevo o poema "A UMA BICICLETA DESENHADA NA CELA"

Nesta parede que me veste
da cabeça aos pés, inteira,
bem hajas, companheira,
as viagens que me deste.

Aqui,
onde o dia é mal nascido,
jamais me cansou
o rumo que deixou
o lápis proibido...

Bem haja a mão que te criou!

Olhos montados no teu selim
pedalei, atravessei
e viajei
para além de mim.


E não querendo macular a "grandeza" deste meu primo e conterrâneo, atrevo-me a expôr aqui o que, há tempos, lhe escrevi :



A Luis Veiga Leitão

Caminhos de pedra marcaram seus passos
Revolta inspirada nas Serras do Demo
A vida foi dura
cá fora e lá dentro,
Com dias dourados
E minutos cruzados
Receando os medos da noite escura.

Escreveu raízes
Fixou palavras
Afrontou letras da injustiça.
Às agulhas do ódio preferiu as pedras
Rudemente pousadas nos seus caminhos,
Da dor libertou o pensamento
Voando por cima da ignorância
De seres amarrados e mesquinhos.
Nem homens nem cães
No tempo perdidos
Nem insectos sem asas
Na lama caídos.

Luis de seu nome sobreviveu
Doou aos livros Veiga e Leitão
E sempre disse tudo de seu
Vindo da alma e do coração,
Poemas de amor
Tamanho do mundo
Suspiros expirados lá longe nos trópicos.

Moimenta da Beira
23 de Outubro de 2004
António Bondoso

***** Alguns amigos do Porto vão homenageá-lo no próximo dia 20 !

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