2009-05-15

O QUE VALE UMA EFEMÉRIDE !



ESTE - NÃO É APENAS MAIS UM ANO NA HISTÓRIA DE MACAU !

Quase, quase no final deste ano de 2009 - vai assinalar-se o décimo aniversário da transferência da Administração do território para a República Popular da China, com o estatuto de Região Administrativa Especial de Macau [ RAEM ]. Um estatuto que, em teoria - e pela palavra dada e escrita por negociadores portugueses e chineses - lhe permite uma orientação singular, pelo menos até 2049.
Ao tão propalado desígnio chinês "um país - dois sistemas", a Lei Básica de Macau "acrescentou" também oficialmente "um território - duas línguas" [ no quotidano falado são mais precisamente quatro - às oficiais Mandarim e Português, a população maioritária prefere o Cantonense e, pela poderosa vizinhança de Hong Kong, ainda o lugar especial da língua inglesa ].

Apesar do tardio "acordar" para as responsabilidades de uma Administração visionária e eficaz, a língua portuguesa não foi ainda esquecida. Não sendo agora o momento oportuno para empolar esta questão [ mais adiante no tempo lá chegaremos ], o certo é que, em Macau, continua a falar-se e a escrever-se em português. Pouco, mas é real ! Como ao longo de séculos ! A seu tempo vou procurar dar conta de novos livros, tal como de jornais e de revistas e de alguns jornalistas que lhes fornecem conteúdos!

Mas hoje - para começar a falar de Macau, a propósito desta efeméride - vou referir dois livros. Para, de alguma forma, homenagear os seus autores - mas, dando significado à capa que encima esta pequena crónica - para justificar o projecto que me vai entreter nos próximos meses :- MACAU NA MEMÓRIA DO TEMPO, do meu querido amigo e companheiro de tertúlia Silveira Machado.
Açoriano de 1918, chegou a Macau em 1933 para estudar no seminário de S.José. Mas cedo desistiu, cumpriu o serviço militar e, depois, ingressou na função pública. Mais tarde professor, desde muito cedo teve queda para a poesia e para os jornais, tendo sido fundador do semanário O Clarim e também do Círculo Cultural de Macau. Para a história deixa alguns títulos, entre os quais este a que me refiro e no qual, citando Pedro José Lobo, destaca a figura do navegador Jorge Álvares "... promotor do estabelecimento das nossas feitorias nas costas da China e a ele se devendo, sem favor nenhum, a glória de prioridade na obra admirável do nosso intercâmbio comercial com a China".
Depois, acrescenta Silveira Machado - "a primeira notícia histórica da chegada dos portugueses à baía da Deusa A-Ma, é-nos fornecida por uma carta de Fernão Mendes Pinto, datada de Novembro de 1555. Só, porém, a partir de 1557, se pode considerar efectivo o nosso estabelecimento em Macau, graças ao tacto diplomático de Leonel de Sousa, capitão-mor dos mares da China, a quem se ficou devendo o encetamento de relações comerciais permanentes com os chineses".

A outra obra, da autoria de António Estácio, tem por título HISTÓRIAS VIVIDAS E CONTADAS, tratando-se, naturalmente, do relato de um conjunto de experiências reais - tomando hoje já uma forma lendária - que lhe foram transmitidas de viva voz, como ele faz questão de acentuar : - "Em Macau, o contacto com os naturais da terra ou antigos residentes proporcionou-me longas horas de agradáveis conversas, que me permitiram conhecer a outra Macau, as suas gentes e não só, pois, tal como eu, muitos dos que por cá se encontram ou por aqui passaram, também andaram por outras paragens, trazendo com eles divertidas histórias de lugares distantes".
António Estácio, dedicado Engº técnico agrário - antigo regente agrícola, como ele gosta na sua verdadeira e simples modéstia - recorda alguns desses nomes: - José dos Santos Maneiras, Mário Abreu, João Lucas, Alfrdo Lourenço, José dos Santos Ferreiira (Adé), Neco Barros, Jorge Neto Valente, José Celestino da Silva Maneiras, Jorge Basto da Silva, Alberto Alecrim, José Possollo.
E, adverte, as histórias não fogem à regra de que "quem conta um conto, acrescenta um ponto"!

A primeira história do livro, publicado em 1997, remonta aos anos cinquenta - uma altura em que era significativa a presença de militares da metrópole - e retrata, de certa forma, o desconhecimento que então [ tal como hoje ] o território merecia por parte de Portugal.

Escreve António Estácio : - "...e tinha-se registado um incidente na Porta do Cerco de que resultou a morte de um soldado moçambicano [Joaquim Mundau, landim, falecido em 25/07/52], vítima de uma troca de tiros com soldados do outro lado da fronteira. Passados uns meses, um militar aquartelado na Guia [Fortaleza] recebeu uma carta da mãe, que estava emk Portugal, em que esta a dada altura, lhe dizia : - meu filho, sei que houve aí uns problemas na fronteira, mas fico descansada por te saber para o interior. Creio que ilustra bem a santa ignorância que se tinha e que, por vezes, infelizmente, ainda persiste em Portugal quanto à real dimensão do Território, e não só" !

Hoje, fruto de novas ambições e de novas capacidades técnicas, é um facto que a dimensão de Macau tem crescido, mas as distâncias continuam a medir-se em apenas alguns minutos!








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