2012-05-22


À VOLTA DE MIM E DO MUNDO...




CENTENÁRIO...OU UM RECONHECIMENTO MERECIDO!

Esta efeméride coloca em destaque a vida e a obra de um dos grandes – mas quase desconhecidos – símbolos da aventura portuguesa no Oriente.
Saído de Freixo-de-Espada-à-Cinta, onde nasceu em 1912, Monsenhor Manuel Teixeira chegou a Macau em 1924 – onde viria a receber o nome de “Man Pak Chin”, o que significa mais ou menos a origem da sabedoria e da virtude.
De facto, esta “personalidade espantosa” – no dizer da investigadora Celina Veiga de Oliveira – legou às gerações futuras uma impressionante, incontornável e preciosíssima obra sobre a presença portuguesa no Oriente e da qual os portugueses fazem, porventura, apenas uma muito pálida ideia.
O professor e editor António Aresta, que também o conheceu em Macau, referiu-me há uns anos cerca de 130 títulos – alguns dos quais traduzidos em inglês e em chinês. Uma obra que classifica de vital importância, pois que – se não fosse o trabalho persistente e metódico de Mons. Manuel Teixeira na investigação, classificação e publicação – boa parte da documentação sobre a nossa presença no Oriente ter-se-ia perdido. Daí, a necessidade urgente de serem reeditadas algumas das suas obras fundamentais, como por ex a “Toponímia de Macau” – cujo manuscrito data do início da década de 1970 mas que só viria a ser publicado (em dois volumes) em 1979.
Rejeitado pela “censura” do governador de então e perdido em Portugal no esquecimento das motivações do pós-25 de Abril, o manuscrito viria a ser recuperado pelo interesse e pelas diligências de uma sua velha amiga de Macau – a professora e escritora Ana Maria Amaro. A censura da obra, disse-me o próprio durante uma entrevista efectuada já depois do seu regresso a Portugal e já muito próximo do seu 90º aniversário, teve origem na simplicidade de um nome de rua: “Rua do Ópio”, de acordo com as autoridades de então, contaria uma história impublicável, eventualmente à semelhança por ex da Rua da Felicidade. Monsenhor Manuel Teixeira opôs-se determinantemente ao corte do respectivo capítulo: - “Nem uma vírgula. São factos, não se podem apagar da história”. Decidiu, então, enviar o manuscrito para Lisboa, onde viria a cair no esquecimento da “ditadura” e, depois, no turbilhão da revolução que se seguiu ao golpe militar do 25 de Abril de 1974.
Nessa entrevista para a Antena 1 da RDP (transmitida no programa Nós e Os Outros, mais tarde cortado da grelha no “consulado Marinho”) e da qual retiro todas as ideias fundamentais do presente texto, Mons. Manuel Teixeira recordou ter chegado ainda a “pregar” em língua chinesa e mencionou figuras e locais que o marcaram. Nomeadamente Carlos Assunção – seu aluno “muito inteligente” e a quem ensinou Latim; o “poeta insubstituível” Adé dos Santos Ferreira; ou o seu “irrequieto” aluno Carlos Marreiros, já nessa época um génio da caricatura.
E seguiu dizendo que os portugueses deixaram uma marca muito forte no Oriente, sobretudo conquistando a amizade dos povos – atitude particularmente devida à acção dos missionários. Não só em Macau e em Malaca mas também na Coreia (onde participou no “Paralelo 38” em cerimónias em honra de N. Sª de Fátima, a 13 de Maio) e na China, onde destaca o trabalho do Padre Jesuíta Mateus Ricci, italiano de origem (Matteo Ricci) que estudou em Coimbra e aprendeu a língua portuguesa para melhor se integrar na vivência de Goa em finais do séc. XVI. Dizem escritos e Manuel Teixeira corrobora, que Ricci foi depois chamado a Macau para estudar a língua chinesa com o objectivo de missionar na China, onde a religião católica enfrentava enorme resistência.
“Conquistou os mandarins pela ciência” – diz Manuel Teixeira. Para além de Humanidades, Ricci partilhava conhecimentos de Matemática e de Astronomia, tendo morrido em Pequim em 1610. “E só não foi canonizado”, acrescenta, pelas críticas que erradamente lhe dirigiram. Ricci foi acusado de ensinar ciência em vez de pregar o evangelho!
Outra “canonização” falhada, mas por motivos diversos, foi a do Padre Adroaldo Coroado, natural de Vilarandelo – concelho de Valpaços – que chegou a Macau em finais do séc. XIX e cedo partiu para Malaca onde passou o resto da sua vida “fazendo o bem sem olhar a quem”. Aí, durante a IIª Guerra Mundial, conta Manuel Teixeira, era comum ouvir-se rádio para saber as últimas notícias. O padre Coroado e outros clérigos, traídos por um “malaqueiro” de nome Bates, foram presos e torturados pelo japoneses. Após a sua morte, os católicos de Malaca quiseram avançar com o processo da canonização, mas – infelizmente – faltou o dinheiro.
Durante a sua permanência em Macau, Monsenhor Manuel Teixeira ficou ainda conhecido como o “casamenteiro” de todos os japoneses. De tal forma que, estando já em Portugal, foi procurado na Casa de Santa Marta, em Chaves, por uma jovem de nome Mioko. Pretendia casar-se com Yoko e vinha pedir a Monsenhor para se deslocar ao Japão. Mas a sua saúde já não o permitiu.
E foi na Casa de Santa Marta, em Chaves, que Monsenhor Manuel Teixeira viveu os últimos dias da sua longa peregrinação pelo oriente deste mundo: - Macau, Malaca, Singapura, Coreia, China e Japão. De certa forma desgostoso por não ter cumprido o seu desejo/promessa de morrer em Macau. --- AB. Maio 2012.



Igreja de S. Francisco Xavier na ilha  de ShangChuan - sul da RPChina.

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