2014-03-22

A PROPÓSITO DA MINHA CRÓNICA DE SEXTA-FEIRA NO CORREIO BEIRÃO...



RUMORES…
…sobre a oportunidade da visão maquiavélica da política e sobre os aprendizes de feiticeiro que se continuam a perfilar neste país moribundo, onde a injustiça dói e a vergonha mata!
            Temos memória, e por isso nos recordamos, que Cavaco Silva enviou para o TC a lei que o governo pretendia fazer executar sobre as pensões e reformas. O Tribunal Constitucional chumbou a ideia…mas – há sempre um mas! – terá deixado a porta entreaberta para que o objetivo governamental fosse alcançado de outra forma. E foi assim que, no OE, ficou garantida MAIS UMA VEZ a fórmula da aplicação da CES. Surpresa? Nem por sombras! Cavaco Silva, que havia supostamente inchado com a sua decisão de chutar para canto o problema – enviou para o TC quando deveria ter vetado – decidiu, aliás na linha de previsões do governo, não questionar a inconstitucionalidade do OE. E então? É inconstitucional…mas vamos sempre pagar! O que, em verdade, não acontece com os juízes – incluindo os do TC que haviam chumbado a lei – e com os diplomatas. Isto, a que chamam Portugal, será um país – porventura? Nem vale a pena falar em Estado de Direito!
            Assim, só podemos aplaudir as conclusões de um estudo a propósito das “Percepções sobre a União dos Portugueses” solicitado pela Câmara de Comércio e Indústria Portuguesa. De acordo com o jornal Público, “Portugueses têm orgulho no país e vergonha do sistema político e económico” – particularmente do modo como funciona a democracia. Felizmente ressalta a ideia de que 60% dos inquiridos sente muito orgulho em ser português, número acrescido de mais 26% que, apesar de tudo, ainda se sentem algo orgulhosos! E sobre os feitos…sempre a gesta dos descobrimentos e o 25 de Abril de 1974.
            No meio de tudo isto, o que vemos dos novos navegantes? NADA! Sem liderança – diz o estudo que não há “líderes reconhecidos” – resta-nos o relógio pacóvio do PP a marcar os dias da Troika e a acutilância de PPC e dos seus apaniguados a dizer mal do melhor documento que se produziu nos últimos tempos sobre a reestruturação da dívida. Mas – felizmente há ainda quem tenha alguma lucidez – aparece Silva Peneda, Presidente do Conselho Económico e Social e membro da família do PSD, a dizer que não é verdade que o programa de ajustamento tenha sido um sucesso. Não falando em consensos mas sim em compromisso para gerar confiança… Silva Peneda toca no fundo:- “o programa de ajustamento agravou as desigualdades em Portugal, destruiu a classe média e a reforma do Estado confinou-se à redução da despesa, através de cortes aplicados aos funcionários públicos e pensionistas”.
            Brilhante Maquiavel que, no capítulo V do seu “Príncipe” (ponto1) diz que só há 3 maneiras de conservar a posse de um Estado que se conquistou e que estava habituado a viver segundo as suas leis e em liberdade:- “a primeira é arruiná-los; a segunda, ir habitá-los pessoalmente; a terceira, deixá-los viver segundo as suas leis, cobrando-lhes um tributo e instalando um governo composto de poucos homens que garantam que continuará a ser teu amigo. Porque, sendo esse Estado uma criação do príncipe, sabe que não pode subsistir sem a sua amizade e poderio, e tudo fará para manter a sua autoridade. Não se desejando arruiná-la, mais facilmente se conserva uma cidade habituada a viver em liberdade por intermédios dos seus cidadãos que de qualquer outro modo”.
            Por isso não resisto a citar o meu amigo e Prof. Jorge Bento:- “As afirmações e aventuras do poderio alemão sempre trouxeram desgraças à Europa. Esta lição da história precisa de ser relembrada, porque corresponde à realidade atual.
Estudei na Alemanha, aprecio a fundura, o rigor e a solidez dos seus pensadores. Mas, pouco a pouco, afasto-me dela. Metem-me medo a arrogância e a insensibilidade de muitos dos seus líderes políticos. A Frau Merkel parece ter sido escolhida a preceito, para ressuscitar os fantasmas e horrores provocados pela ânsia de hegemonia dos alemães. À proclamação 'Deutschland über alles' respondamos, a plenos pulmões: NEIN!”.
António Bondoso

Jornalista – CP 359. 

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