2014-04-28

A PROPÓSITO DA RÁDIO E DAS SENHAS DO 25 DE ABRIL DE 74. 
O MEU CAMARADA E AMIGO EDUARDO VALENTE DA FONSECA - colaborador do programa LIMITE.


A propósito da rádio e das “senhas” para o golpe de 25 de Abril de 1974, levado a cabo pelo chamado “movimento dos capitães”, alguns foram lembrando outros que participaram…sabendo!
E igualmente ainda outros que se viram envolvidos…sem saber!
No meio de todas as histórias contadas, retive uma relacionada com o programa LIMITE, transmitido na Rádio Renascença mas com produção independente. Nesse mesmo onde foi passada Grândola Vila Morena, de Zeca Afonso. O programa era muito conhecido pelo arrojo na abordagem de temas com alguma polémica, mas também por incluir muita poesia.
E dentre a imensidão dos colaboradores do programa, ouvi referir um antigo camarada – jornalista e poeta – EDUARDO VALENTE DA FONSECA. Na época trabalhador no “República”…mas que eu só viria a conhecer quando ele passou a integrar o quadro redatorial da RDP no Porto. Dessa sua “participação” – no programa, claro – nunca o ouvi vangloriar-se. Já tive oportunidade de o recordar em outras ocasiões, a propósito dos livros que foi publicando.
E hoje, mais em jeito de homenagem, não resisto a trazer aqui OS CRIPTOGÂMICOS, o nº3 da coleção Paisagem, da Livraria Paisagem, no Porto e publicado em 1973.
E dos deliciosos textos “poéticos” que este livro encerra – e que ele me ofereceu dizendo “ao bom amigo e leal companheiro de trabalho” – permito-me destacar, talvez pela atualidade, “O Dr. Carlos e os políticos”. E reza exatamente assim: “Uma mesa de café. Em volta, cabeças em surdina. A conspiração dos políticos, sempre às mesmas horas. Os bolsos cheios de naftalina. O Dr. Carlos, com uma dessas caras que servem de apresentação a um ideal político, entrava no café com ar de segredo já sabido por todos, e soprava a novidade suficientemente alto para ficar gravada no ouvido mais distante da sala. No final das reuniões concluíam todos cheios de sossego, que, felizmente, a revolução não era para já. O Dr. Carlos precisava de apodrecer na sua quinta dos arredores. Todos eles precisavam de apodrecer nos arredores ou ali, mas o que todos levavam era muito tempo…”
OS CRIPTOGÂMICOS – de Eduardo Valente da Fonseca – do qual o autor escreveu, em 1973, que “…E Deus criou as pessoas e o bolor”!

António Bondoso
Abril de 2014.



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