2014-04-12


UMA MORTE PROVOCADA PELA QUEDA…
ou uma queda mortal, provocada pela indiferença e pela imprudência. Talvez até como consequência de um entusiasmo arrebatador!


         Dir-me-ão que, por coincidência pura, tudo pode acontecer. Mesmo sabendo que os números me são simpáticos – como o 11. Fui o onze em alguns casos, fiz parte do “onze” em outros tantos e o onze sempre é metade do 22 – outro número simpático a que muitos chamam de dois patinhos, particularmente quando se participa no jogo do loto.
         Mas, por obra desenganada de um destino madrasto, eis que – no dia 11 de Abril – o número 11 do Correio Beirão foi o último da 3ª série deste jornal fundado em 1956, em Moimenta da Beira.
         Em matéria de jornais, sobretudo no que toca à chamada “imprensa regional” e particularmente numa região interior do país, há – como em tudo – uma série de fatores a determinar o insucesso de um projeto. Partindo do princípio de que as pessoas, com todas as qualidades e defeitos inerentes, são fundamentais para erguer e sustentar o dito – é aí que se torna fundamental investir. Repito…investir! O que, em boa análise, não tem o mesmo significado de gastar dinheiro. Aqui pode falar-se em falta de planeamento, uma vez que o investir pressupõe sempre um risco. Um risco calculado, planeado. Apesar de sabermos que pode falhar. E errar é próprio do ser humano.
         Assim sendo – e até que a administração e/ou a direção do jornal decidam esclarecer as razões do falhanço – o que posso dizer é que sinto uma emoção de perda. Moimenta da Beira vai ficar, ao que tudo indica, sem o seu “título” mais antigo. Dir-me-ão que estamos num mercado global, onde as regras da concorrência são cumpridas não havendo, portanto, lugar a sentimentalismos. Mas eu sinto. E ninguém pode duvidar. É a terceira morte do Correio Beirão, o que me faz lembrar que os cavalos também se abatem ou que, por outro lado, os apostadores de cavalos morrem tesos – como diria essa lenda viva no jornalismo e na literatura americana, Damon Runyon.
         Não pretendendo especular e muito menos acusar seja quem for…o que não posso é deixar de colocar algumas questões que, aos interessados, sempre dirão alguma coisa. Ninguém é obrigado a coisa alguma, muito menos a responder, mas há o dever de perguntar.
Terá sido apenas um problema de concorrência entusiástica, entendida aqui como sinal de competitividade? É que a competitividade implica sobretudo a “inovação”, o ser diferente! Terá sido [ou pretendeu sê-lo] o Correio Beirão, nesta sua 3ª série, um jornal diferente?
Não foi o projeto acarinhado por quem devia? Quis o jornal afastar-se das origens e das raízes? Terá havido indiferença dos agentes económicos, sobretudo de Moimenta da Beira?
Terá havido imprudência na análise de quem assumiu o projeto de ressuscitar o jornal? Poderá colocar-se a ideia de que se pretendeu querer dar um passo maior que a perna? Mas, então, e a ambição – essencial a qualquer projeto? Não é fácil, mas aguardo.
Não só pelas respostas, mas esperando igualmente que o Correio Beirão possa ressurgir – onde quer que seja – para voltar, inevitavelmente, a ter a oportunidade de uma quarta morte. Se possível…muito longe no tempo!


António Bondoso
Jornalista – CP359.

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