2015-04-22


A PROPÓSITO DO DIA DA TERRA...

Recordo uma breve reflexão, já com uns anos - embora poucos - 


DIA DA TERRA:
UM FUTURO CONFIÁVEL?
“A capacidade de projectar o futuro será cada vez mais importante para gerir, controlar e procurar minimizar os riscos sociais, tecnológicos e ambientais que se irão avolumar ao longo do século XXI (...). Finalmente é também necessário aceitar a inevitável incerteza inerente às tentativas de projectar o futuro”.
                                                                                                                             Filipe Duarte Santos (2007)
            Do “não sei” de Vitorino Magalhães Godinho à “inevitável incerteza” de Filipe Duarte Santos – quanto ao amanhã – não existe qualquer passo desencontrado. Talvez apenas a diferença nos discursos de um Historiador e de um catedrático de Física – acentuada eventualmente pelo lapso temporal na publicação das obras, 2010/2007. A primeira tem presente a atual crise, concluindo Vitorino Magalhães Godinho que “É possível que, baixada a febre mas não debelado o mal, voltemos aos carris do mundo de finais do século XX e início do XXI. A crise de excecional gravidade que atravessamos poderá não passar de uma oportunidade perdida, poderia ser uma oportunidade para mudar de rumo. Mas seria necessária coragem e lucidez – que não se encontram à venda nos supermercados, essas catedrais dos novos tempos”.
            Quase premonitória esta visão de Magalhães Godinho. Baixou a febre mas o mal parece não estar ainda debelado. Pode recordar-se, a propósito, um dos remédios recomendados pelo Professor: libertar a economia das garras da especulação financeira.
            Relativamente à segunda obra – de Filipe Duarte Santos – a visão pessimista abrange um horizonte temporal muito mais vasto: “A coexistência de valores contraditórios associados ao atual modelo dominante de desenvolvimento tende a gerar incerteza e alguma ansiedade. O futuro foi e será sempre incerto mas, hoje em dia, a incerteza envolve os riscos altamente complexos que resultam de desigualdades de desenvolvimento entre países, da insegurança e conflitualidade sob formas cada vez mais diversas e perigosas, e ainda de vários problemas ambientais graves”. Por isso, acrescenta, “são cada vez mais os que procuram encontrar novas éticas ambientais e novos paradigmas de governação capazes de nos conduzir à sustentabilidade do desenvolvimento”.
            Como refere Neto da Silva (2007) – “Estamos, pela primeira vez na História da Humanidade, numa encruzilhada. De facto, se continuarmos com o crescimento que conhecemos nos últimos séculos, o Planeta deixará de ter condições para que o Homem nele viva”.
            É o crescimento de que nos fala ainda Vitorino Magalhães Godinho ao salientar a nova (velha?) ideologia, da qual se deve distinguir o conceito de desenvolvimento: “As nações avançam em pelotão, as de trás procuram recuperar o atraso (de novo recuperar o atraso). A curva do sempre sacrossanto PIB revelaria a recuperação conseguida e o prosseguir da maratona por todos. Confiança imerecida nesse indicador – o Nobel economista Joseph Stiglitz dirige estudos para forjar indicadores mais fiáveis”. Tudo isto à margem, ou mesmo à custa, do direito fundamental que é a inviolável dignidade da pessoa humana? “Seria mais pertinente ter em conta o salário mínimo como indicador, e melhor ainda uma bateria de indicadores (fundação e extinção de empresas, evolução das bolsas, curvas de preços e salários, etc.)”.
            Mas os estudos podem, ainda e de novo, não ser fiáveis ou adaptáveis. E há que ter em conta uma decisiva questão: o planeta é finito.
            Por isso é que Neto da Silva acrescenta que “Eficiência e Competitividade cegas destruirão as hipóteses de vida sobre a Terra. Por isso, a ideologia da globalização competitiva, para ter sucesso, como é desejável, tem que se basear em eficiência e competitividade compatíveis com um desenvolvimento que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras satisfazerem as suas próprias necessidades. Uma tal visão do progresso liga, de forma interdependente, desenvolvimento económico, proteção do ambiente e justiça social”.
            Sinónimo de Desenvolvimento Sustentável?


Foto de António Bondoso

ANTÓNIO BONDOSO
JORNALISTA



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