2015-09-02

VENHAM TODOS!

Está aí à porta a EXPODEMO 2015, com o símbolo da maçã. E depois são as vindimas. A China e o Brasil darão o toque no prosseguimento da internacionalização e haverá muita música - de Angola, do Brasil e de Portugal(Paulo de Carvalho, por exemplo) - para além de inúmeros espetáculos e exposições. Como sempre. 

Foto de António Bondoso

Na varanda da fachada do edifício da Câmara Municipal de Moimenta da Beira há uma tarja com uma frase que importa reter e sobre ela refletir, apesar da sua simplicidade ou talvez por isso mesmo: Moimenta da Beira saúda-vos.
O que vos pretendo dizer…é apenas isto: um cartaz pode ser um poema na sua complexa e prazenteira atitude.
VENHAM TODOS

E esta estranha forma complexa de ser
E de receber
Aqueles que um dia foi preciso ver partir.

É um misto de contagiante alegria
E de simpatia quase angustiante
Sentindo que a história é uma vítima
De uma assassina memória
Sempre a crescer
Sempre a pedir
Quase mesmo a exigir.

Uma estranha e complexa atitude d’estar
E de pensar
Aqueles que sendo nossos
Já não são
E os outros que não sendo
Desejamos conquistar pelo coração.

Mas que venham todos
Uns e outros disponíveis
Para lembrar a história
Saber e perceber a memória
Dar corpo e dar vida
A tantos lugares sensíveis!

Que venham todos
De sorriso aberto
Antes de os voltar a ver partir!
=== António Bondoso
Setembro de 2015.


Foto de António Bondoso

Por outro lado[e no livro EM AGOSTO...A LUZ DO TEU ROSTO, de 2014], recordo que a "emigração, tal como hoje e talvez desde sempre, era muitas vezes a saída de sentido único. Manuela Aguiar chamou a Portugal, em 1999, O País das Migrações Sem Fim. Uma recolha de textos seus, enquanto governante e deputada. Num deles, datado de 1997, diz que “É cedo ainda para anunciar o fim dos tempos da nossa emigração”. E naquele início da segunda metade do século XX, para o Brasil e apenas em quatro anos [1950-53], tinham já partido mais de 180 mil adultos e quase 34 mil crianças. África ainda não era, como nunca viria a ser, o destino prioritário de milhões de portugueses que fugiam à pobreza. O fluxo aumentaria, apesar de tudo, mas por motivos de ordem diversa. E hoje, 40 anos depois da descolonização, África volta a ser destino. Por necessidade, claro, mas agora por opção, embora ainda não prioritário. Angola e Moçambique estarão certamente nas estatísticas recentes que nos dizem que, entre 2010 e 2011 a emigração portuguesa cresceu 85%, com destaque para a faixa etária entre os 20 e os 30 anos." 
Que venham todos, de sorriso aberto, antes de os voltar a ver partir. Ou partir eu, claro. 
António Bondoso
Jornalista

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