2015-11-09

S. TOMÉ E PRÍNCIPE
ENTRE O CHOCOLATE E O PETRÓLEO – AFIRMAR A PAISAGEM E O MAR!



“UMA “ILHA CORAÇÃO”…EM FORMA DE PAÍS”.
         “No dia em que eu cheguei à Ilha, levava comigo um golfinho – o «Pantufo» – escoltado pelo gandu «Santana» e por milhares de «vadô-panhá», aproveitando uma água temperada azul cor de turquesa, apesar da calema da «gravana».
         Avançámos avistando terra e encontrando refúgio numa bela e protegida baía a que deram o nome de «Ana Chaves». E ali fizemos amizade com uma encorpada tartaruga, que – desde logo – nos foi chamando a atenção para os perigos que a sua espécie ia correndo, pois era evidente o aumento da sua importância comercial, com o aproveitamento da sua carapaça para a elaboração do tradicional artesanato.




Assim começa um texto/espécie de conto que eu escrevi para assinalar o 40º aniversário da independência daquele país africano e que entendi por bem aproveitar para a introdução de uma conversa na Universidade Sénior de Portimão – um dos polos do dinâmico Instituto da Cultura daquela cidade algarvia, a funcionar desde 1992, muito graças ao trabalho solidário e voluntariamente empenhado dos elementos da Direção [particularmente Carlos Martins e Fátima Negrão, mas também Luísa Branco] e do corpo docente. Ao todo, são cerca de 200 pessoas que ali ensinam e aprendem História – de Portugal e da Arte; Geografia, Sociologia, questões ligadas à área Sócio Criminal, Psicologia, Saúde, Artes Plásticas, Literatura Portuguesa e outras línguas.    
         Sala repleta e um interesse visível marcaram a “conversa” sobre STP – para a qual fui convidado por impulso de uma companheira de infância e de juventude naquelas ilhas do meio do mundo, a Nanda Teixeira, ali docente muito estimada há já alguns anos.
         E depois, o reencontro com o meu/nosso professor de literatura no ciclo final do antigo ensino liceal – José Casinha Nova – portimonense de gema e ali docente estimado de igual modo, tal como havia sido em S. Tomé e Príncipe onde, de resto, lhe nasceu uma filha. 

         A conversa passou por alguns tópicos incontornáveis como a História da Colonização e os Ciclos do Açúcar, do Café e do Cacau; a mestiçagem como forma determinante da cultura das ilhas; e naturalmente o turismo e o mar – como bases da economia que também vive [para já apenas como ilusão] a expectativa do petróleo. E citei mesmo uma frase da jornalista e escritora são-tomense Conceição Lima: “Com ou sem petróleo, é minha opinião que se deve apostar em sectores como o turismo e o mar, cujas potencialidades são consensualmente reconhecidas hoje”.
         Acresce que, tanto o Banco Mundial como o Fundo Monetário Internacional, dizem que – num cenário de ausência de petróleo e de ajuste orçamental – o país ficará num alto risco de sobre endividamento.  


E entre a dissertação e as perguntas da assistência, houve tempo para projetar um vídeo/slide show sobre a história das Ilhas – a que dei o nome de «Escravos do Paraíso» – tal como foi oportuno ouvir dizer poesia de Alda do Espírito Santo [Cela Non Vugu, por João Faria], de Almada Negreiros [Rosa dos Ventos, por Maria do Amparo Bondoso], de Conceição Lima [A Casa, por António Bondoso] e de Francisco José Tenreiro [Canção do Mestiço, por Manuela Barra]. Maria Fernanda Teixeira fechou a sessão dizendo um recente poema meu Filho da Terra, publicado em AROMAS DE LIBERDADE(S), de 2015.




Portanto, para além do turismo – no qual é fundamental aproveitar a classificação da UNESCO para a ilha do Príncipe como «reserva mundial da biosfera» – há também que dar corpo a um outro projeto que o regime colonial não conseguiu resolver, o Porto de Águas Profundas, que o Estado são-tomense recentemente acordou com a empresa da RPC, a China Harbour.
António Bondoso
Jornalista
Portimão, 29 de Outubro de 2015


Sem comentários: