2018-12-20


O QUE FALHA…ou vai falhando!
Está em voga nos últimos tempos. Repetida à exaustão, é uma conhecida tática de desgaste. Permitida, alimentada e manipulada à exaustão, em toda a pirâmide do Estado, transforma-se na arma perfeita do populismo e dos populistas. 


O que falha neste retângulo não é o Estado, entendido como agregador de todos os portugueses. O que falha é a atitude dos políticos, quer sejam governantes ou não. E à grande parte deles falta competência – uma falha gravíssima. O que falha é a falta de carácter dos «fazedores» de opinião publicada. O que falha é sermos sérios. O que falha é o sentido do ridículo de quem intervém a destempo ou daqueles que pecam por omissão. O que falha é a falta de competência dos técnicos nos vários setores de atividade. O que falha é não termos patrões qualificados ou que saibam ser empresários. O que falha é igualmente a falta de honestidade de uma boa parte dos empregados, já que os verdadeiros trabalhadores nem sequer têm tempo para ser desonestos. O que falha é a atitude gananciosa dos «donos disto tudo», ou da alta finança – se quiserem. O que falha é a contradição entre pobreza e miséria, por um lado, e as benesses atribuídas aos bancos e banqueiros, por outro, para controlo do tecido económico e do défice – como dizem os políticos. O que falha – e tem falhado neste país – é a completa submissão à ilusão da bondade da União Europeia – idealizada para a Paz, mas cuja «construção» tem vindo a ser encaminhada para benefício dos donos do dinheiro, em desfavor dos cidadãos, acentuando mesmo as desigualdades entre os Estados-membros. O que falha, em última análise, é saber olhar para as pessoas. E é delas, e para elas, que vivem os Estados.
O que falha, no caso de Portugal, é a coragem de assumirmos os defeitos – como dizia Almada Negreiros no Ultimato Futurista às gerações do século XX: «O Povo completo será aquele que tiver reunido no seu máximo todas as qualidades e todos os defeitos. Coragem, portugueses, só vos faltam as qualidades».
Completando a ideia, gostaria apenas de fazer referência ao pensamento de dois amigos. Ao João de Sousa, do jornal TORNADO, sobre a polémica recente à volta dos magistrados do MP. Escreve ele: «Portugal é um Estado de Direito, Democrático, em que o titular da soberania é o povo, representado pelos órgãos eleitos por si. Não há ilhas em autogestão, fora desta soberania. (…) Os magistrados do MP têm de rapidamente reconhecer a autoridade dos órgãos do estado em matéria regulamentar, disciplinar e orgânica sob pena de continuarmos no paradoxo de uma instituição a quem o povo incumbiu de investigar e de fazer cumprir a lei ser ela própria fora da Lei
Já o Jorge Bento, Professor Universitário, lembra a exigência do aprofundamento da democracia, lançada pelo Papa Francisco, a qual parece ter caído no esquecimento da governança do mundo, nomeadamente na Europa: «A democracia não corre perigo algum, bem pelo contrário, quando se toma consciência da necessidade de a aprofundar e melhorar. Ela é ameaçada, sim, quando os partidos se contentam em ser máquinas de conquista, partilha e usura do poder. Do jeito como a coisa anda, eles funcionam, não raras vezes, como instrumento de inaceitável asfixia cívica e democrática. Uma análise responsável das circunstâncias não estranha que os cidadãos procurem formas alternativas de expressão e representação da sua vontade e dos seus anseios. Não é o fim; é a exigência de um novo e superior estádio da democracia! Ora isto coloca a questão de saber se os partidos e os políticos profissionais são capazes de aceitar este desafio.»
Não tendo hoje filiação partidária e não sendo um político profissional, corroboro este desafio aqui expresso por Jorge Bento, tendo em conta que a democracia também não pode fortalecer-se à margem dos partidos, nomeadamente dos tradicionais. Por outro lado, lembro que os novos movimentos gerados na sociedade, particularmente na Europa, em muitos casos contra os partidos, acabam quase sempre por se transformar igualmente em partidos.
O que não deixa de ser uma «falha», claro, e não tão pequena quanto isso!
António Bondoso
Jornalista
Dez de 2018.





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