2013-07-17


A PROPÓSITO DA DIGNIDADE...

A MINHA CRÓNICA (ESCRITA NA 2ªF.) A PUBLICAR NO JORNAL BEIRÃO DE 6ªFEIRA.

(Foto e Legenda de António Pedro Ferreira)

A TÁTICA DO QUADRADO...
...ou de como a “guerrilha” obriga, muitas vezes, a preferir um recuo tático. A imagem também se utiliza em política, traduzida em dois passos atrás para poder avançar um.

          Mesmo dando-se o caso de estarmos todos – ou quase – fartos dos joguinhos e das jogatanas politiqueiras, há sempre assuntos que nos motivam a refletir, colocando à prova a nossa imaginação, a criatividade e a sensibilidade de cada um.
          Acontece que o número de Julho da revista Courrier Internacional – edição para Portugal – debruça o seu “Olhar” sobre os refugiados e a sua circunstância, colocando a questão: Se tivesse que fugir num minuto, o que levaria?
          Trata-se de uma “campanha fotográfica”, da autoria de António Pedro Ferreira, que foi integrada nas comemorações do Dia Mundial do Refugiado e promovida pelo Conselho Português para os Refugiados em parceria com o ACNUR – Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. A iniciativa pretende sensibilizar a sociedade portuguesa para o impacto da guerra nas famílias refugiadas que, “num minuto, perderam tudo: o seu lar, os seus amigos, o seu futuro”.
          Nos retratos selecionados – na sua maioria africanos e asiáticos – é dada ênfase a pormenores como água, uma Bíblia, um par de ténis, um tapete ou mesmo um beijo da mãe. Mas há um que me tocou particularmente: o de Francisco, que saiu da Palestina com 2 anos de vida e foi para a Síria, acabando por fugir dali rapidamente e sem nada. Trazendo apenas, como escreveu num cartaz, a sua DIGNIDADE.
          Isto faz-me lembrar que, mesmo não estando os portugueses em estado de guerra pura com qualquer outra nação – no sentido bélico, portanto – não deixam de ser muitos de nós refugiados na sua própria terra. Exatamente porque vamos sendo despojados da nossa “dignidade”. Não só material. Sobretudo moral!
          Se atentarmos bem...sabemos que, por um lado, apenas 11 quadros bancários ganharam mais de um milhão de euros em 2012, somando salário fixo e remunerações variáveis; por outro lado, lemos que, já em 2011, quase metade da população portuguesa estava em risco de pobreza. E hoje sabe-se que mais de 38% dos desempregados estão em risco de pobreza, para além de ter aumentado esse risco para um elevado número de famílias com crianças dependentes. Acresce que mais de dois milhões de portugueses vivem com privação material e que é já muito elevado o número de alunos em debilidade económica grave. E, mais grave, os suicídios e homicídios: alguém vai ter que ser responsabilizado pelo facto de haver “um cada vez maior desprezo pela vida humana”. Carlos Poiares, psicólogo forense, acentua que a culpa é da crise pois “as pessoas perderam a esperança.”
          O Estado deixou de ser uma “pessoa de bem”, os governantes que o representam optaram pela mais simples e mais antiga fórmula de “depenar” os cidadãos – cortes e mais cortes nos salários e nas pensões e reformas, sempre aliados ao aumento de impostos, diretos e indiretos. As pessoas ficam sem teto, deixam de poder cumprir os compromissos para os quais foram sendo aliciadas, os bancos apropriam-se das casas e “leiloam-nas” a quem tem dinheiro. Tudo em nome da alta finança internacional – os mais perfeitos agiotas neste mundo globalizado. Tudo com a benção de um Presidente que não preside.
          E, assim, vai aumentando igualmente o número de portugueses praticamente “obrigados” a refugiar-se noutros países, recorrendo ao estatuto de “emigrantes”. E a maior parte o que levará? Certamente a DIGNIDADE!
          Eu, por exemplo – se voltasse a emigrar e na certeza de não correr o risco de excesso de bagagem – gostaria de levar também os Roteiros, de Cavaco Silva; as folhas excell, de Vitor Gaspar; a décima parte da reforma de Catroga ou um sexto da pensão de Assunção Esteves; umas ações do BPN, mesmo que irrevogavelmente desvalorizadas; a sabedoria e o arrojo de José Gomes Ferreira – que já tem um governo à sombra da SIC; o brilhantismo da careca de Medina Carreira; um manual de espião e muita LIBERDADE! Para poder pensar pela minha cabeça e agir de acordo com a minha consciência, com os meus valores morais e éticos. E como um verdadeiro soldado nunca deixa um camarada para trás, se tivesse que fugir num minuto[provavelmente para as ilhotas Selvagens], levaria seguramente as verdadeiras AMIZADES que fui cultivando ao longo da vida. Sem qualquer tipo de tática!
António Bondoso
Jornalista – C.P.359.
Julho de 2013   

antoniobondoso@gmail.com 
               

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