2014-11-03

PORQUE REJEITO A HIPOCRISIA E A BAJULAÇÃO…



PORQUE REJEITO A HIPOCRISIA E A BAJULAÇÃO…
Emprestando sentido prático à parábola do deve e haver entre pais e filhos, quero dizer que devo muito a S. Tomé – S. Tomé e Príncipe não me deve nada. E com a publicação deste meu mais recente livro EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO, dou como adquirida a minha rejeição de qualquer ligação oficiosa ou institucionalizada.
Guardarei, claro, a relação afetiva com o país e com os são-tomenses que fazem o favor de ser – de facto – meus amigos. Muitos deles, felizmente, amigos de infância e de um crescimento adolescente em liberdade. Tive a sorte de a «minha geração a preto e branco ter crescido junta, sabendo dar e receber».
         Rejeito a hipocrisia, a bajulação, a pretensa capacidade de ser historiador e não me revejo em interpretações de suposições. E como é triste verificar um certo tipo de aceitação de ideias baseadas no oportunismo conjuntural e bacoco. Recuso-me a engrossar o número desses “manipuladores do tempo” pois tenho como certo que a “verdade é relativa”, ninguém é dono dela e a seriedade intelectual não permite “devaneios”.
         E não durmo sobre o passado. Repouso nele para daí retirar conclusões que possam facilitar a relação das pessoas, hoje e no futuro, numa base de igualdade e de reciprocidade sem traumas. Nesta reflexão não cabem tabus, pois deles não fiz vida e deles não me alimentei.
Desde que me conheço sempre me entreguei a causas, e STP foi uma delas. Ainda nos tempos da chamada “impossibilidade histórica” e para além de mim, não me recordo de muitos jornalistas profissionais portugueses [contam-se pelos dedos de uma mão] que escrevessem e falassem sobre o país. Nesse período, recordo-me de ter transmitido a Pires Veloso, no Porto, a minha [e também do meu sogro] preocupação e apelo para interceder junto das autoridades de STP no sentido de minorar o sofrimento de alguns amigos presos. Nem todos foram atendidos.
E mais tarde, já na era da “mudança”, foi a minha falta de sono e a minha preocupação com os amigos que me levou a liderar as primeiras informações sobre o golpe de 1995, vencendo a distância entre Macau, São Tomé e Portugal. E escrevi e publiquei livros onde coloquei meses e anos de trabalho [estudo e investigação] praticamente sem ajudas. Mas não me queixo. Fi-lo porque senti a importância de poder proporcionar aos mais novos visões diversas da História que, diga-se, não começou em 12 de Julho de 1975. Escravos do Paraíso, Seios Ilhéus, Tons Dispersos, foram alguns exemplos.
E continuei a escrever nunca esquecendo as Ilhas do Meio do Mundo, até vir a público este último EM AGOSTO…A LUZ DO TEU ROSTO, um triângulo de viagens entre Portugal, STP e Macau – como que uma incursão pelos meandros do antigo regime e pelo fim do Império. Assinalo, assim, os 40 anos da independência da terra que me viu crescer e em algumas páginas desenho uma sentida homenagem à Professora e Senhora D. Maria de Jesus, uma das vítimas dos trágicos acontecimentos de 1953.
Não preciso de mediatismo balofo – nunca o solicitei – para expressar as minhas ideias. Continuo transparente e intelectualmente sério nesse combate das palavras e das ideias. Rejeito hipocrisia, bajulação e – sobretudo – recuso participar em atitudes de sabujice. Deixo essa “missão” para alguns que aparecem agora na “pantalha” ou nas capas de alguns jornais.


António Bondoso
Jornalista- CP 359.

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