2007-08-02

Voltou a "redondinha"

Costuma lembrar o meu camarada e poeta Manuel António Pina que a poesia é um "ofício difícil". Mas, para além disso, a poesia é também um JOGO. Um jogo de palavras, de sentimentos, de emoções, de protesto perante a injustiça, de louvor diante do que deve ser exaltado. Um jogo de amor, também de mentira - um jogo de verdade e de (in)felicidade. UM JOGO DE VIDA !
Mas é de novo o tempo de outro jogo, aquele a que costumam chamar de "desporto rei". E qual a relação do futebol com a poesia ? É que esta é também um "jogo" em que o árbitro ( o poeta ) é que decide marcar os golos nesta ou naquela baliza, quando e como quiser, desde que seja com as palavras certas - directas, de encantamento, ou mordazes como farpas ! Um desafio de futebol, quando bem jogado, é um hino à Poesia.
Mas a figura do árbitro não aparece nas minhas palavras com o significado de "Satanás". Longe disso e até pelo contrário. O árbitro é uma "peça central" do jogo, com tanta importância (sendo certo que às vezes com "idêntica influência") como a dos agentes directos - jogadores e treinadores. E como o futebol não é uma ciência exacta, por muito que tentem, acontece que "todos" acabam por falhar em algum momento. E não será a "profissionalização" a mezinha para todos os "males" do nosso futebol, se a essa opção não for adicionada uma dose de maior rigor , de mais treino e de penalizações mais adequadas. Os árbitros vão continuar a errar(basta recordar o que se passou por ex nos recentes torneios do Guadiana e de Roterdão e no 1º clássico Chelsea-M.United) ! Mesmo que treinem com os fuzileiros na Base do Alfeite! O que se lhes pede ( e não é de agora - é desde sempre! ), tal como aos juízes, é que tenham as leis numa mão e o bom senso na outra ! O tempo de decisão, infelizmente para os árbitros, é que é mais curto. Imediato ! Competência, Classe, Atitude - Saber estar! E tendo em conta a grande dose de subjectividade da função, também os observadores vão continuar a cometer "erros" nas classificações que vão atribuir aos árbitros. Por muito que os critérios de avaliação evoluam positivamente, como se espera. E também não será a introdução de tecnologias ( como no ténis) que vai resolver tudo. Aliás, como se tem visto nos grandes torneios de ténis por esse mundo fora. A bola "queimou" a linha ou não( atenção aos Fiscais/Auxiliares) ? E a repetição dos lances, em digitalização, deverá ser feita nos écrans dos estádios ?
Um passo importante para a "credibilização" do futebol será ao nível dos dirigentes. Alterações profundas na sua mentalidade mesquinha, na ganância ou, até, na "esperteza saloia" ! A competência e a honestidade deverão estar para além de tudo isso . E os adeptos ?
É um componente essencial do fenómeno ! Como na Ópera, no Teatro, no Cinema, os adeptos (espectadores) são a razão do espectáculo. São eles que arriscam, são eles que "mexem" e fazem "mexer" o fenómeno. Independentemente de haver associações ou grupos organizados - as claques ! É certo que os "grupos" ( mesmo tendo em conta as excepções) têm constituído a origem de alguma violência nos estádios ou nas imediações. Mas não se pode generalizar e devem até salientar-se os exemplos positivos.E quem estuda a psicologia das multidões, não pode esquecer outros elementos associados, como as raízes culturais e as condições sócio-económicas. E o próprio fenómeno futebolístico, em si, que deixou de ser apenas desportivo para se tornar numa indústria - cada vez mais potenciadora de outras indústrias! E o "dinheiro" - já dizia Thomas More na sua "Utopia" - é um dos grandes males das sociedades.
Por muito que se tente "diabolizar" as claques, não se pode esquecer o que as rodeia, os interesses envolvidos e as manipulações a que são sujeitas. Como a "provocação esclarecida" na Luz, a época passada. Não foi imprudência nem ingenuidade. Basta ler o relatório da Inspecção do MAI. E depois de publicado, qual foi o destaque que mereceu dos media ? Praticamente nenhum. Mas, no imediato, as claques ( no caso, as "azuis e brancas") foram julgadas e condenadas. Por isso, também não se pode deixar de fora o comportamento dos media- jornalistas e proprietários! Também neles se manifesta a subjectividade, o erro de julgamento apressado e definitivo. É bom que se reconheça. E que se aceite ! "Ninguém" é detentor da verdade. E são também muitos jornalistas/comentadores a colocar pressão sobre os árbitros. Quer pelo que dizem antes dos jogos, quer pelos comentários durante, ou ainda pelo julgamento final. Sobretudo quem utiliza a Televisão ! Mesmo dispondo de toda e idêntica tecnologia, os comentários e as análises dos chamados lances polémicos não "coincidem". Por outro lado, há até lances que "passam em claro" ! E a subjectividade, meu Deus ! Não é fácil esquecer ditos deste tipo : - "não foi o avançado que falhou, foi antes o guarda-redes que efectuou uma grande defesa". Normalmente é nas grandes penalidades, mas acontece também nos lances de "bola corrida" - de acordo com a "clubite" dos comentadores.
Partindo dos pressupostos desta análise/comentário, deixo à vossa consideração este meu poema, que já data de 2004.

Ainda uma nota : --- como devem ter "reparado", ao texto original foram hoje ( dia 6 Agosto)
acrescentados breves e simples pormenores.

NÃO MATEM O FUTEBOL...
SOMOS A RAZÃO DA PAIXÃO!

Universo de carácter encantado
Rompe o futebol com a razão.

Noventa momentos de magia
labirinto rendilhado de emoção
não existe um limite de sentidos
cultiva-se a grandeza da peleja.
Ritual de força e de paixão
intensa imagem de calor
mal desponta o início da função
cresce tudo em movimento e muita cor.

Universo de carácter encantado
Somos nós a razão dessa paixão.

Plateia de vulcões adormecidos
com vultos exaltados e aguerridos,
o futebol é emoção e é paixão
uma bola colorida em rotação
gritando que o consenso é um empate
sem lugar elevado no combate !

Universo de carácter encantado
é brilho que alimenta o coração.

Identidade vestida p'ra ganhar
um jogo permanente de poder,
agitada e complexa incerteza
de uma bola repetida p'ra marcar,
quase nada sobra a quem perder...
talvez suaves toques de beleza
e um golo já feito p'ra não ser.

Universo de carácter encantado
nem tudo se move por paixão.

O esforço e o suor na camisola
nem sempre determinam a vitória
ou obrigam a perder quem não transpira.
Ciência quanto baste e show de bola
não esgotam emoção aleatória
ou perturbam corações que os inspira.
Não matem o futebol assim jogado
humano e vivido em todo o lado
eterno universo encantado
e renascido a cada golo anulado.

Somos nós a razão dessa paixão
cantemos futebol no coração !
----------------------------------------------------------------
António Bondoso
V.N. de Gaia

Sem comentários: