2009-01-20

O MEU AMIGO JOÃO !

HÁ SEMPRE UM LIMITE PARA A VIDA !

Quando recebi a notícia, fiquei triste. É sempre triste perder uma vida - ainda mais quando foi próxima da nossa. Sabia da sua idade, dos seus problemas de saúde, mas não tinha informação do seu recente internamento hospitalar. Já não o via há bastante tempo - creio mesmo que o nosso último encontro tenha acontecido no funeral de um seu irmão, em Lisboa, talvez há dois ou três anos.

Mas a distância não impedia que me lembrasse dele, sobretudo pelos laços de família, sendo tio da minha mulher. E dele tínhamos falado ainda não haviam passado 24 ou 48 horas, recordando a circunstância de não termos conseguido contacta-lo pelo Natal.

JOÃO TAVARES - o meu amigo João de há muitos anos num paralelo bem mais tropical.
Por "vizinhança", conheceu-me ainda eu era uma criança. Viu-me crescer, partilhava amizade com meu pai e, talvez embalado pela franqueza do convívio - que viria a ser de muita proximidade pelo cruzamento dos laços familiares - até eu lhe chamava muitas vezes Tio João.

Com alguns dos filhos - Lurdes, Isabel, Jó, Fatinha e a João - brinquei nessa fase de crescimento, e não raras vezes me escapulia para sua casa à hora do almoço, onde me lembro de degustar por vezes um delicioso e picante "calulu", um dos pratos típicos de São Tomé, preciosamente cozinhado pela sua mulher Dinatília, igualmente já falecida. Também não raras vezes, essas escapadelas me custavam primeiro um grito de chamamento e, depois, o natural ralhete da minha mãe - que a "conversa" com o pai era outra!

Por circunstâncias diversas (e apesar de todo o apoio que meus sogros Filomena Tavares e José Augusto Pontes sempre lhe dispensaram), JOÃO TAVARES não teve uma vida fácil em São Tomé, buscando mais tarde melhores tempos em Angola - quebrados depois pela descolonização. E o "retorno" a Portugal também não foi isento de dificuldades, considerando a dimensão da ruptura que a revolução havia provocado. Mas tudo se foi compondo, com altos e baixos.

Do meu amigo João (quando recebi a notícia pelas lágrimas da minha mulher), por um qualquer acaso da vida veio-me à ideia um fado com excelente interpretação de Ana Moura, que tem um verso mais ou menos assim :- Ó meu amigo João, quem ditou a tua sorte !?
A sorte do João, que eu conheci em pequeno e cheguei a acompanhar a casa, abraçado, e de quem uma outra vez tive notícia da sua "aventura" pela estrada que ligava a cidade à Roça Diogo Vaz - onde vivia sua irmã Floripes, casada com o meu tio Armando - acompanhado de uma mala recheada apenas com um par de sapatos... a sorte do meu amigo João foi ditada pela vida ! Na qual, agora - simplesmente - foi colocado um ponto final !

E a mensagem que deixo aos filhos, seus amigos incondicionais, é exactamente essa :- foi a vida e as suas circunstâncias que ditaram a sorte de João Tavares. Imperfeito, como toda a gente - com virtudes e defeitos. Mas aos 80 anos de idade, deixa-me a imagem de um Homem bom, alegre, de sorriso no rosto, maroto (brincalhão) mas honesto e feliz à sua maneira ! Para mim é quanto basta, que sempre gostei de pessoas de coração aberto!

Até sempre, ó meu amigo João! E se nem sempre me lembrar de ti, falo-ei certamente cada vez que ouvir o fado de Ana Moura!


1 comentário:

Nuno Raimundo disse...

Olá.

Agradecemos a homenagem feita pelo primo ao nosso "pai".

:)

A: Nuno e Maria João.

abraços
e bjs para a Amparo.