2007-09-19

A FORÇA QUE VEM DO FRIO.

Para lembrar, ainda, o Mestre das Terras do Demo.
Poema recente de António Bondoso

A Força que Vem do Frio

A força que vem do frio
Dos montes e das escarpas
Ninguém sabe muito bem
Se se parece com farpas
Agudas, cortantes também
Temperadas pelo rio
Que corre, sem esperar por ninguém.

A força que vem do frio
Da palavra um desafio
Só sabe que tem ideias
Acorrentada às cadeiras
Iluminada às candeias
De azeite que é das Beiras.

A força que vem do frio
Das pedras e das giestas
Moldou o homem da Nave
Leomil e Montemuro
Também da Serra da Lapa
E d’outras bem perto destas.
Umas de grandes rios
Outras só de um ribeiro,
Palavras de Aquilino
Claras como o destino
Puras por tradição
Na honra de um beirão.


Entre os rios Paiva e Távora
Há mais regatos de pedras
De gelo que vem das neves
Arrastado pelas trevas.
Verdade pura das musas
Encantadas pelo Demo
Traz as cabeças confusas
Por coisas que eu não temo
Arrenego afasto e cruzo
Ou arrebato do fuso.


A força que vem do frio
Vem da terra vem da gente
Vem da palavra dos homens
Redoiçada em cada nuvem
Que passa a correr no vento.
De Moimenta a Sernancelhe
De Vila Nova a Trancoso
Há poucos rios de gente
Fugiram da fome e morte
Noutros tempos era a sorte,
Emigraram para um mundo
Tão estranho mais profundo.


A força que vem do frio
Tingida pela verdade
É munífica e rescendente
Tem aromas do presente
Com tiques de liberdade.
Corre-se à solta na serra
Por entre maias e fráguas
Rosmaninhos e giestas
Frescos fios puras águas,
Vê-se gente santa e boa
Será que vem de Lisboa ?
É dali…
Inteligente
De raiz laboriosa
Caminha até ao Varosa
Marca a vida como sabe
Sem produzir necedade.
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António Bondoso

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