2007-09-28

IDEIAS E FRASES - O PRIMEIRO DIA!...

26 de Setembro de 2007, noite da Sic Notícias... SANTANA LOPES DEU O PONTAPÉ DE SAÍDA!

... E saíu, agradecendo o convite, mas dizendo que "as pessoas têm que aprender". E que pessoas ? Os jornalistas!

Acha que estas palavras não fazem sentido ? Desiluda-se ! Penso que estamos num país de doidos, tal como pensa Santana Lopes, mas aquela frase faz todo o sentido. E é consequência da sociedade hipermediatizada em que hoje vivemos. A omnipresença dos media, a "realidade" em directo, a ditadura dos directos - a um ritmo tão desenfreado - que, inevitavelmente, conduz a grandes contradições na relação entre os actores da sociedade de comunicação. Essas contradições, segundo o grande pensador da "comunicação" Dominique Wolton, "...não têm que ver com a falta de liberdade, mas sim com as dificuldades em não abusar dela: overdose de informação, erros ligados à concorrência desenfreada entre os media, falta de profissionalismo por parte dos jornalistas, ritmo demasiado rápido da produção de informação...".
Wolton diz ainda que a informação não se reduz ao relato do acontecimento e que o acontecimento satura a informação, considerando que o directo não é sinónimo de verdade, e o sentido é ainda mais difícil de determinar, quando nos colamos aos acontecimentos. Não existe a obrigatória distância para se entender o processo. É a informação-espectáculo !

Nesta "batalha" entre os actores da comunicação, é verdade que os vencedores têm sido os jornalistas, mas também é verdade que foram os políticos a contribuir para isso, sobretudo ao delegar nos media o papel de intermediário entre eles (os políticos) e a opinião pública. Esta, ainda sem a força necessária para determinar o equilíbrio, vai contribuindo - sobretudo pelo consumo - para alargar o fosso das contradições. A nossa opinião pública é já um gigante na informação, mas é ainda um anão na capacidade de acção !

Sem diminuir a importância dos media e no sentido de arranjar saídas para estes problemas das sociedades democráticas (em ditadura eles não se colocam!), tem-se pedido aos jornalistas menos pressão sobre os políticos e, a estes, a atitude de menos promiscuidade, saltando de media em media a repetir ideias inconsistentes. Tem sido evidente, não só em Portugal, que os apelos vão caindo em saco roto.

Mas eis que, exactamente neste país pequenino, surge inesperadamente uma reacção positiva: - Santana Lopes, na Sic Notícias.
Recordo-me de uma famosa cena da "cadeira vazia" numa entrevista; lembro-me de alguns episódios (tristes) do programa "A cadeira do Poder", mas nunca - até ontem - me recordo de ver uma atitude como a daquele político do PSD. Não posso jurar a pés juntos, mas não me vem à memória idêntica situação.
Santana Lopes pode ter iniciado uma nova era na nossa sociedade de comunicação. E fê-lo com pedagogia, interpelando a jornalista/editora daquele espaço de informação : acha que se justifica? Mais um directo com uma pessoa que já havia dito tudo nas duas semanas passadas? Mesmo sendo José Mourinho um excelente treinador ? Interromper uma entrevista, apenas para mais um directo sem valor acrescentado ?
Enquanto decorria o directo, Santana Lopes poderia ter saído de imediato. Mas inteligentemente não o fez. Pode-se agora argumentar que terá sido demagogo. Mas não se pode negar que foi uma atitude pedagógica !
Imitando Sérgio Godinho, pode dizer-se que "...ONTEM, FOI TALVEZ O PRIMEIRO DIA DO RESTO DA VIDA QUE TEM MARCADO A RELAÇÃO DOS MEDIA (e jornalistas) COM OS POLÍTICOS... O RESTO DA VIDA DE UMA RELAÇÃO ENTRE PODER E CONTRA-PODER... O RESTO DE UMA VIDA ONDE TEM PONTUADO A INFORMAÇÃO ESPECTÁCULO" !

Assim seja !


António Bondoso


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