2007-09-11

IDEIAS E FRASES - positivo/negativo

UM BOM PAINEL ... PARA UM MODERADOR "DESATENTO" !


Há quase quarenta anos (quem já passou dos 55 certamente se recorda...), ficou célebre um Festival da Canção da RTP, sobretudo à volta de dois intérpretes e de duas canções. Se não me
engano, uma chamava-se "ONDE VAIS RIO QUE EU CANTO" e foi cantada por Sérgio Borges. De outro lado, sobressaíu um mediano intérprete (Hugo Maia de Loureiro) para uma excelente melodia - Canção de Madrugar, de José Carlos Ary dos Santos. A "manchete" que ficou dessa altura, foi uma frase mais ou menos assim :-"Uma boa canção para um mau intérprete" !
Ficou em 2º lugar.

Tudo isto para voltar ao caso Madie e ao recente "Prós e Contras" da RTP. Um óptimo painel de convidados que, infelizmente, não pôde chegar ao excelente e que não foi devidamente acompanhado pelo desempenho da apresentadora/moderadora. O programa valeu, sobretudo, pelo painel ( honra seja feita à modéstia da jornalista, que reconheceu isso mesmo) acentuando Moita Flores ter "...percebido mais e melhor todo o enquadramento do caso neste programa, do que ao longo dos quatro meses que já passaram desde o desaparecimento de Madie". Pelos vistos, UM SIMPLES PROBLEMA DE COMUNICAÇÃO, tendo em conta a presença "oportuna" (embora tardia) do Director Nacional da PJ e, particularmente, do Presidente do Sindicato da Polícia de Investigação.
Para os mais desatentos - e não são poucos - interessa-me particularmente lembrar duas coisas:- Investigação, Ministério Público - dependência do Governo ; Justiça, Tribunais - Órgãos de Soberania independentes.
Por outro lado, recordar que o Dr. Cunha Rodrigues - então Procurador Geral da República - publicou em 1999 um livro "COMUNICAR E JULGAR", editado pela MinervaCoimbra para a Colecção Comunicação, superiormente dirigida pelo Jornalista Mário Mesquita.
Os tempos vão difíceis, dizia Cunha Rodrigues na primeira linha do seu Prefácio ! E começaram aí, de facto, tempos difíceis ! Para a Investigação Criminal, para a Justiça e para os Media e Jornalistas. Ultrapassando as naturais adaptações e a evolução dos códigos ( um infindável número de leis), "COMUNICAR E JULGAR" não deixa de ser uma recomendável leitura para os tempos que vão correndo !
Já então Cunha Rodrigues se preocupava com as relações entre a justiça e a comunicação social.
Sobretudo tendo em atenção que passámos a viver numa Sociedade de Comunicação, na qual a
Opinião Pública se forma praticamente em tempo real. Sabendo que a justiça "constitui um sistema em que é fácil capitalizar o descontentamento" e tendo em conta "o choque cultural" trazido pelas novas tecnologias, o antigo PGR teve a noção da delicada relação, para a qual nem a justiça nem os media estavam preparados. Mas era irreversível ! Por isso, Cunha Rodrigues dizia "...ser urgente que a justiça se modernize e assuma a sua função explicativa e a comunicação social domine a racionalidade do direito, vinculando-se ambos a um estrito e recíproco respeito".
Citando Edgar Morin, CR escrevia "... ser altura de saber lidar com a realidade, antes que ela nos devore com as suas formas atrozes e massacrantes" !
Pelos vistos, ninguém se preocupou, ninguém reparou. Nem jornalistas, nem magistrados, nem governantes ! Talvez com uma pequena/grande excepção, constituída pelas empresas que, em colaboração com a Universidade de Coimbra, deram corpo a um "Curso de pós-graduação em Direito da Comunicação". Que uso terá feito dele quem o frequentou ? Por culpa própria ou dos media para quem trabalham ?
E na voragem dos acontecimentos... poucos deram atenção às preocupações de Karl Popper, Pierre Bourdier ou Florence Aubenas, continuando cada um a "fabricar" a sua informação !

Por tudo isto é que, no meu negativo, continuo a colocar os media e alguns jornalistas - o que eu chamei de "participantes activos na elaboração de material informativo".
No programa em questão não estava um representante "oficial" da classe ( o director do Expresso era apenas ele e a sua circunstância...), o que impediu o assumir de responsabilidades colectivas - embora a apresentadora, de passagem, o tivesse feito. De uma forma geral não esteve atenta, deixou que se repetissem ideias, os seus "tempos de intervenção" foram, por vezes, desajustados e - mais importante - permitiu que um seu convidado, ainda por cima vindo de Madrid, fosse severamente (e até de forma jocosa ) criticado, sem que ele, não falando português, se pudesse ter defendido convenientemente. Assumiu o risco, convidando-o, devia te-lo elucidado das críticas e proporcionar-lhe uma defesa atempada. Os seus parceiros portugueses que, pelos vistos, não sabem tudo, ficaram mal na fotografia, como é agora vulgar dizer-se. Alguns, até, reivindicando narcisicamente pergaminhos ainda não reconhecidos.
E depois, Fátima Campos Ferreira, não se deve (poder, pode...) dizer que " a comunicação social ficou presa da actuação do casal McCann" ! Os media - os jornalistas - não podem ficar reféns de coisa alguma. A sua responsabilidade social não lhes permite perder a independência que reivindicam.
A.B.

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